Wednesday, September 19, 2007

Sunday, April 09, 2006

Friday, December 30, 2005

Heisenberg


(De uma aparição em Palavras em Linha)


Passava por aqui como brisa suave que não presta atenção aos obstáculos e senti-me chamado. Porquê eu, porquê agora?
Venho sempre depois da última estação, concorrendo contra o vento e contra a tempestade. Mesmo assim, antes do tempo, antes das colheitas e da felicidade de ter.
Talvez não seja por acaso. A minha estrutura é a mesma do sonho. Não interessa muito o ser ou não ser.

São muitas as formas de não chegar. São muitos os desejos. São demasiados os desencontros.
Soube, em tempos, porque descobri, que há ardor bastante em antecipar o lume e que no momento em que atingimos a dobra assombrosa da montanha não é ainda ali que está.
Mas também o saber se esvai e com ele a firmeza das deduções e a quadratura do círculo.

De cada vez que o sangue ferveu pelo impulso consentido, senti-me à beira do lugar e da hora em que era suposto uma verdade definir-se. Parecia, pareceu, foi, existiu, prometo, esse instante.

Nas quedas abruptas que às vezes ocorrem nos sonhos, mesmo nessas em que não somos nós que guiamos a barca e parece que uma mão forte e definitiva nos remove do selvagem instinto do acaso, há um momento, imediatamente antes, em que acordamos.

Não sei como explicar, eu que gosto de formosas explicações, este adiar definitivo de tudo o que está para acontecer, este desvio para o lado no momento do choque, este gongo que nos salva no momento exacto em que o corpo se aproxima da demência.

Por agora, enquanto não acontece outro desejo inacabado, aceito que na proximidade dos desejos há sempre um ar rarefeito que torna o mundo mais improvável como se um cósmico princípio da incerteza nos impedisse saber de nós e do outro ao mesmo tempo.

Quaise

Sunday, November 13, 2005

Explicação

Keith Nicolson

Há gestos que de tanto usados se tornam nossos.
Como o ginasta que elegantemente consegue
Um movimento que parecia impossível.

É assim que se marca o corpo.
No degrau gasto por milhares de passos
Fica para sempre o que chamamos memória.

Força bruta dos sentidos a deslizar.
Casos e acasos que vão empurrando o vento
De modo a levantar, num passe de mágica
O rosto, a fé, o murmúrio e o pensamento
E a vontade fortuita dos intervalos.

Gostava de ser capaz de, por palavras minhas,
Dizer que incêndios, terramotos ou ciclones
Se abatem sobre as sombras inconsistentes da vontade
Quando um gesto liso, frágil e displicente,
Ocasional, voluntário, sinuoso ou digital,
Recai violento e intruso sobre o olhar.

Gostaria de explicar por palavras minhas
O que acontece ao corpo
Quando um gesto solto o surpreende
Na curva irregular dos sentidos.

Mas há no gesto, na indiferença e nas palavras
Uma tal presença de ambiguidade
Que torna para sempre impossível
Dizer o nome que cada desejo tem.


Quaise

Friday, July 08, 2005

Antes de mais nada

Hello, World!